Acredito que todos (ou quase todos) estamos com o psicológico debilitado pelos últimos acontecimentos – crise climática, guerra, eleições, aumento significante do uso da tecnologia, redes sociais e por aí vai. A impressão que tenho é que a conta da saúde mental pós-pandemia está chegando agora, naquela máxima de “antes tarde do que nunca”. Crises de ansiedade, fobia social, depressão, exaustão, irritabilidade, cansaço físico e mental são só alguns dos sintomas que eu e a maioria das pessoas do meu círculo têm sentido nos últimos tempos.
Por aqui me sinto sobrecarregada quase todos os dias e com a sensação de que estou me equilibrando em um slack line de 4 metros de altura com a vida inteira passando por baixo. Eu firme, na corda bamba, tentando dar conta de tudo e sem existir a menor chance de cair. Empurrando a vida e o tema dessa coluna um pouquinho mais pro humor, recentemente li um ótimo tweet que dizia: “hoje minha cabeça tá com 82 abas abertas sobre assuntos diferentes”. E outro que dizia: “queria passar um dia gritando SEI LÁ pra tudo que me perguntassem”.
A cura para esse estado de espírito existe, claro, mas exige esforços e disciplina que eu mesma, que estou aqui com o objetivo de dar algumas dicas, ainda não consegui atingir. Poderia citar uma lista de coisas que vão te fazer sentir um pouco melhor, como meditação, exercício físico, leitura, menos tela, passeio ao ar livre, mexer na terra. E então diria a você que nada disso adiantaria sem antes uma boa sessão de terapia – talvez o método mais eficaz para a sanidade mental.
Mas como não sou psicóloga e nem expert em nada disso, vim aqui só pra um conselho amigo mesmo. Pra te contar uma coisa que faço, que parece boba, mas que me ajuda e muito a organizar meus pensamentos. A velha e boa limpa no armário.
E antes de começar a discorrer sobre o assunto, te pergunto: há quanto tempo você não organiza o seu armário? E aqui não falo só de guarda-roupa não, incluo também armário da cozinha, dos remédios, da lavanderia. Se a sua resposta for há mais de um ano, eu te garanto que já está na hora de uma nova limpeza. E peço desculpas se soo um pouco paternalista te dizendo o que você deve ou não fazer na sua própria casa, mas é que tirar o que não faz mais sentido e abrir espaço pro novo é a metáfora da vida. Para além do lado místico (que eu amo), de que coisa guardada é energia parada, o ato de organização das gavetas da casa é extremamente meditativo.
Aqui em casa, quando apareço com o paninho todo mundo já sabe e ninguém me segura. Não paro até passar pela casa inteira e isso pode levar semanas ou até meses. Sou completamente apaixonada pela sensação que o desapego traz. A minha regra é: se está parado há mais de dois anos é porque não faz mais sentido na minha vida. Mas atenção para o descarte! Quase nada vai pro lixo, por isso é importante fazer a limpa com algumas caixas ao lado pra você destinar corretamente o que não quer mais. Tem a caixa da doação, do conserto, da reciclagem. Remédios você pode descartar em algumas redes de farmácia que possuem coletor e fazem a destinação correta, pilhas e eletrônicos a mesma coisa, itens quebrados será que tem conserto? Se não, será que, com um pouco de criatividade, não são reaproveitados de alguma outra maneira?
Já o processo de organização e como se guarda as coisas novamente é algo extremamente pessoal e tem que ser de uma maneira que faça sentido pra você. Mas, se quiser inspiração, o que não falta na internet são dicas de organizadoras profissionais. Eu recomendo o livro da Marie Kondo, A Mágica da Arrumação, que também virou uma série na Netflix. Marie é uma especialista em organização e escritora japonesa que inventou o método konmari e o seu grande diferencial é como ela propõe que as pessoas lidem com os objetos e as emoções e sensações atribuídas a eles. Vale a pena a leitura.
A prática da organização me traz uma meditação ativa e estado de presença para aquilo que estou fazendo no momento. Enquanto penso em como vou disponibilizar minhas roupas no guarda-roupa e se separo por cor ou por tipo de peça, saio de frente das telas, curto a minha solidão, me conecto comigo mesma, ao mesmo tempo que cuido de mim. E acreditem, como num passe de mágica, sua mente fica mais clara, os seus problemas não ficam tão grandes assim – e não se assuste se coisas inusitadas começarem a acontecer, como um convite de trabalho que você estava muito a fim de fazer ou um reencontro com alguém que você não falava há tempos. Já contei que sou meio mística, né?
Por: Giovanna Nader